O território reflete relações de poder, resultando em desigualdades e conflitos. As territorialidades socioambientais surgem como resposta a essas injustiças, especialmente diante das mudanças climáticas que ameaçam comunidades vulneráveis com inundações, aumento do nível do mar e erosão. Soluções baseadas na Natureza (SbN) e Adaptação de base Ecossistêmica (AbE) são abordagens inovadoras e sustentáveis para enfrentar esses desafios.
As SbN utilizam processos naturais e ecossistemas para promover sustentabilidade e resiliência. Já as AbE se valem da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos para ajudar comunidades a se adaptarem às mudanças climáticas, integrando conservação ambiental e desenvolvimento sustentável. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) define SbN como ações para proteger, gerir de forma sustentável e restaurar ecossistemas, abordando desafios sociais de maneira eficaz e adaptativa, proporcionando benefícios para o bem-estar humano e a biodiversidade.
Gestão participativa do território
A gestão participativa e a organização popular são fundamentais para implementar essas estratégias, garantindo que as comunidades locais se tornem protagonistas na construção de territórios resilientes e adaptados às novas realidades climáticas. Dessa forma, as SbN e as AbE não apenas mitigam os impactos das mudanças climáticas, mas também fortalecem as identidades coletivas e promovem a justiça socioambiental.
Movimentos sociais desempenham um papel crucial na transformação da natureza e na construção da realidade territorial. As dinâmicas territoriais emergem das contradições sociais e dos conflitos gerados pela exploração dos recursos naturais. Grupos vulneráveis criam identidades coletivas que se tornam pontos de partida para transformações. Movimentos sociais identificam desigualdades e degradação ambiental, engajando-se politicamente e propondo alternativas ao modelo de desenvolvimento econômico, formando “territórios de resistência”.
Com o agravamento das mudanças climáticas, esses territórios de resistência também se tornam espaços de adaptação, onde comunidades buscam soluções para enfrentar inundações, aumento do nível do mar e erosão. A realidade dos refugiados climáticos, que perdem seus territórios devido a extremos climáticos, é uma questão emergente e crítica.
A organização popular e a gestão participativa são caminhos essenciais para melhorias na qualidade de vida. Tanto no rural, no litoral, nas áreas ribeirinhas, como no espaço urbano, atitudes ecológicas e solidárias confrontam processos de “desterritorialização”. A compreensão do território fortalece o sentido de identidade e pertencimento, tornando-o a “sede das resistências”, onde as contradições do poder econômico e da construção histórica se manifestam.
Grupos sociais procuram resolver problemas socioambientais e identificam estruturas de poder presentes. Redes solidárias permitem que protagonistas locais, com seus saberes e valores, construam territorialidades socioambientais. Com o avanço das mudanças climáticas, essas redes se tornam essenciais para enfrentar desafios climáticos, garantindo resiliência e adaptação das comunidades afetadas.
Modelo alternativo e territorialidades socioambientais como resposta
A necessidade de um modelo alternativo de ocupação e transformação do território é evidente. A gestão participativa do território, através da práxis (ação-reflexão), permite que os habitantes assumam o papel de protagonistas e garantam seus direitos, forjando territorialidades socioambientais resultantes de ações contra hegemônicas. Uma concepção de desenvolvimento territorial voltada para o diálogo e a autonomia decisória, que inclua a preservação da natureza, das identidades e dos vínculos territoriais, surge como resposta à reprodução ampliada do capital.
As territorialidades socioambientais emergem como respostas coletivas e organizadas às injustiças e degradações ambientais, especialmente em um contexto de mudanças climáticas que intensificam inundações, aumento do nível do mar e erosão. Nesse cenário, as SbN e a AbE se destacam como abordagens essenciais para promover sustentabilidade e resiliência. A integração dessas estratégias com as territorialidades socioambientais fortalece a capacidade das comunidades de resistirem e se adaptarem às adversidades climáticas, promovendo uma gestão participativa e inclusiva do território que valoriza a biodiversidade e os recursos naturais como pilares para um futuro mais justo e sustentável.
Texto Francisco Pontes de Miranda Ferreira
Fotos: Adobe Express