O ‘leave no trace’, ou ‘não deixe rastros’ (NDR), ou, turismo ‘pega leve’ é o conjunto de orientações para o ecoturismo mais amplamente adotado no mundo todo. É fundamento, o que há de mais importante, a base para a prática e aperfeiçoamento de atividades ao ar livre. Turismo, hobbie ou trabalho na natureza. Caminhada, pesca, agricultura, acampamento, pesquisa, etc. São orientações para a vida, para o cotidiano das pessoas.
O NDR tem como base a ética de respeito ao próximo e ao meio ambiente. Orienta para conservar a natureza, de forma que as pessoas compartilhem os benefícios dela sem destruí-la. Procura evitar ou reduzir ao máximo, o impacto ambiental causado pelo ecoturismo.
Orienta para planejamento, segurança e bem-estar em campo, pois quem vai ao campo, vai para passar bem. Ter boas experiências, desfrutar os benefícios de saúde que a natureza nos dá – que são muitos.
foto: Alexandre Almeida
O NDR fornece orientações importantes sobre ser independente, com base em preparação, conhecimento e responsabilidade. Orienta sobre normas de segurança, conduta (comportamento), planejamento e equipamentos, evitando o consumismo geração de lixo. Sua prática possibilita a percepção de que é possível ecoturismo a baixo custo financeiro.
O não deixe rastros desperta a atenção das pessoas para os impactos ambientais do ecoturismo, e – ao mesmo tempo, revela quantas atividades interessantes há em contato com a natureza e com outras pessoas. O não deixe rastros, dá condições para reconectar pessoas à natureza, sem destruí-la.
O ‘Não Deixe Rastros’ tem sete orientações, que são fáceis de entender, pois fazem muito sentido.
1 – Planejamento e Preparação – onde vais, o que vais fazer, o que tens de levar.
2 – Use (viaje e acampe) em superfícies resistentes – reduza o impacto do pisoteio.
3 – Tratamento adequado para resíduos sólidos e dejetos – lixo, coco e xixi !
4 – Respeito à vida silvestre – os bichos e as plantas – não perturbe, nem machuque
5 – Minimize o impacto de fogueiras – o fogo pode se espalhar, cuidado com incêndios !
6 – Respeito às outras pessoas – educação, cortesia e silêncio !
7 – Deixe o que encontrar – não leve nada além de fotos, memórias e aprendizado.
Para memorizar melhor os sete princípios, pode ser possível relacionar os aspectos da seguinte maneira.
Planejar e preparar, são o que vem primeiro, antes de irmos ao campo, é o primeiro ponto.
Segundo ponto: pisoteio, é o que fazemos o tempo todo, esteja em superfícies resistentes.
Terceiro, resíduos – cuidado com o que geramos: lixo, coco e xixi – tratamento adequado – lembrem-se da pandemia de Covid, uma das muitas doenças que afetam animais silvestres e humanos.
Quarto: vida silvestre – respeite animais e plantas – não espante, não mate, não danifique.
Quinto: fogo – cuidados com a fogueira, se possível evite ou use apenas madeira fina.
Sexto: respeito ao próximo, a começar pelo barulho, não fale alto em campo, reconheça e remunere dignamente o trabalho de quem te ajuda. Considere diferenças culturais para evitar choques de comportamento e conflitos, sobretudo com as comunidades tradicionais que vivem na região visitada.
Sétimo: não leve nada. Nem plantas, nem bichos, nem pedras, artefatos ou evidências históricas.
Ainda que pareça sem importância relevante para você, objetos encontrados podem ser evidências reveladoras para historiadores, antropólogos, geólogos, botânicos, zoólogos e ecólogos, com implicância no manejo e conservação do lugar (crânios, conchas, ossos, pontas de setas, raspadores, frutos secos, penas, casulos, etc). Além disso, se um objeto lhe foi interessante, também poderá ser para muitos outros visitantes após você. Logo, deixe o que lhe atraiu, para que seja atrativo às outras pessoas também.
Mais uma vez, mais simples ainda. Facílimo.
Planejar, preparar, pisoteio, resíduos, fogo, não leve nada, respeito à vida silvestre e às pessoas.
O que foi apresentado merece leitura atenta, reflexão e ponderação sobre o fato que, para cada região, tipo prática ao ar livre, tipo ambiente ou de comunidade visitada, diferentes aplicações do ‘Não Deixe Rastros’ são necessárias e com frequência, visitantes não percebem o aparecimento de tais situações onde o NDR pode fazer falta, ou diferença decisiva em se evitar acidentes e impactos ambientais.
Neste sentido, cursos rápidos de NDR aplicados às diversas peculiaridades de cada região são importantes, pois transferem a experiência local, contribuindo com teor de vivências práticas ao aprendizado e conduta dos visitantes.
Autor: Alexandre de Almeida
Biólogo, ornitólogo de campo, com experiência em diversos biomas. Mestre em Ciências Florestais, doutorado em Ecologia Aplicada (USP). Gestor de acampamento e condutor de visitantes.