Imagem do Canva: Museu de Arte de Niteroi/RJ
No século XVIII com o triunfo da filosofia cartesiana e a degradação do instinto e da imaginação a arte passou por uma transformação importante. Foi época de um excesso da razão inclusive nas manifestações artísticas. A própria natureza foi considerada imperfeita para ser “corrigida” pela ciência e pela arte. Foi assim que a arte clássica passou a ser valorizada e de diversas maneiras reproduzida. Mas, havia também oposição a este tipo de pensamento na época. É o caso de Vico que argumentou que a poesia dependia principalmente da capacidade de se interromper com o intelecto. Opinião que foi séculos depois influenciar os conceitos de arte moderna. Schiller também afirmou que a sensibilidade estética é a base do desenvolvimento da razão e da moral. No entanto, a racionalidade predominava. Hegel compartilhava um pensamento mais direcionado para a razão e afirmou que a fase importante representada pela estética deveria ser superada a favor de uma fase superior representada pela filosofia e a religião. Mas, a razão não é o elemento mais importante para as manifestações artísticas. Nem Leonardo da Vinci aplicou apenas a ciência em sua arte. É claro que as possibilidades técnicas e científicas de cada período histórico influenciam o artista e apresentam novas possibilidades. No entanto, a arte não pode se limitar às técnicas, à reprodução direta. A extrema racionalidade só prejudicou a arte. Felizmente os grandes artistas trabalham com as emoções e não com a razão.
Para Hegel a arte era uma etapa prévia para o desenvolvimento da mente na direção da verdade. Representa assim a verdade apenas na forma sensível que para ele era insuficiente. A filosofia, segundo Hegel, transformaria a arte em apenas uma brincadeira infantil. A visão extremamente racional da arte emerge ainda mais com o pensamento positivista encontrado nos escritos de Spencer e Fechner. Na visão materialista a arte também envolve apenas a expressão racional. O artista é colocado como um trabalhador qualquer que transforma objetos em expressão através da pedra, madeira, bronze e cores. Assim como o poeta, para os materialistas, se expressa em palavras e o arquiteto com os materiais de construção. A arte, no entanto, está mais próxima da satisfação presente, por exemplo, nos trabalhos artísticos das crianças. Fato presente também na arte primitiva. Sem preocupação com o ideal ou com o real. Torna-se assim uma intensificação da própria vida, necessária para o enriquecimento da alma.
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A arte é a voz dos espíritos e o sucesso das tribos nas atividades diárias como pescar e a própria fertilidade depende dela. O artista tem assim o potencial de se comunicar com os espíritos e os deuses. O artista se torna um indivíduo relevante para toda a comunidade como o bruxo. Deve contribuir para a mente do espectador para que se sinta alegre, livre, elevado. O poder da emoção é destacado na produção simbólica. A técnica é utilizada para produzir símbolos e para assim traduzir emoções. Arte está próxima da definição da gargalhada proposta por Bergson. Algo que vai além da lógica. Trata-se de uma descarga de emoções que fazem a tribo dançar com alegria e harmonia. A arte não é um arranjo racional de palavras ou cores e sim algo que atinge a alma, recheada de intuições e não de conceitos.
O expressionismo, por exemplo, foi um movimento artístico que negou o empírico, o científico e o desejo de imitar o mundo real. A arte pós-impressionista também teve a característica de se aproximar do Oriente. Foi um afastamento das técnicas ocidentais de perspectiva e do chiaroscuro. Não é que o oriental não tinha a capacidade de trabalhar com estas técnicas, eles simplesmente não sentiam a necessidade. O ritmo, a harmonia e a precisão estavam presentes, mas o elemento simbólico predominava.
Imagem do acervo de projetos Tecnoarte.
O artista deve ser espontâneo.
O poeta, por exemplo, necessita daquele período silencioso de tempestade de pensamentos fragmentados antes de realizar a poesia. Estes fragmentos são repentinamente organizados pelas emoções e desejos para se tornarem criação. O conforto linguístico da arte é alcançado depois da tempestade. Emoções que encontramos no movimento alemão Die Brucke com destaque para o norueguês Edvard Munch. Movimento que se inspirou na arte africana e da polinésia que admiravam no Museu Etnológico de Dresden.
Outra influência importante foi a de outro artista que se afastou do racional: Van Gogh. Um dos membros do movimento, Emil Nolde, afirmou que o que o artista aprende é de pouca importância. O que ele descobre com a intuição importa muito mais. Sua arte fortaleceu-se com as influências de suas viagens para Java e Burma e com as inspirações medievais encontradas em Augsburg e Strasbourg. Temos, portanto, a arte racional e intelectual de um lado e a expressão emocional do outro. O próprio Cézanne afirmou que as cores expressas pela emoção eram mais importantes no quadro do que as formas geométricas.
Arte não pode servir ao mundo do consumo e da propaganda como acontece muito hoje. Arte é para bruxos que se comunicam com os espíritos.
Autor: Francisco Pontes de Miranda Ferreira
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