Texto adaptado de Gladwell et al. 2013 (The great outdoors: How a green exercise environment can benefit all. Extrem. Physiol. Med. 2013, 2, 1–7), por Alexandre de Almeida.
O homem contemporâneo chega ao século XXI, esgotado, doente e entristecido. Apartou-se da natureza e enclausurou-se na vida comprimida das cidades. Procura comprar ‘felicidade’ e a espera ‘materializada’ de pronta entrega, com ajuda de recursos tecnológicos.
O retrovisor da história revela claramente as marcas da destruição nos ambientes, marcas que cunham no próprio homem, os males do nosso jovem século: depressão e estresse.
Depois de tantos avanços tecnológicos, falta o essencial: qualidade de vida. Temos diante de nós uma jovem geração extremamente triste, movida a açúcar, ansiolíticos e antidepressivos.
Para suportar a tensão e as diversas facetas do estresse, causadas pelas demandas do trabalho corporativo e pelo dia a dia urbano, as grandes empresas, em uma tendência atual, adotada por vários segmentos diferentes, como válvula de escape, oferecem salas de descompressão.
Salas de descompressão, ou salas de lazer, buscam distrair e relaxar as pessoas no próprio local de trabalho, combatendo o esgotamento, a ansiedade e a consequente queda de produtividade. Nestas salas, trabalhadores podem espairecer a mente, relaxar, interagir com os demais ou até dormir e assim, voltar ao trabalho menos estressados.
Mas, e a vida além do trabalho? Além da selva de pedra? Como resgatar a interação com a natureza em busca de uma vida mais equilibrada?
O ancestral do homem moderno, em 99% de sua história evolutiva, dependeu da natureza como caçador e coletor, por isso, a espécie humana tem uma conexão evolutiva de milhares de anos com a natureza e parte de nossa construção genética é predisposta a desejar contato com ela de forma inata (1), o que explica porque exercícios em ambientes naturais devem ser utilizados para melhorar a saúde e o condicionamento físico.
Exercícios ao ar livre (outdoor), também conhecidos como ‘exercícios verdes’ (aqueles realizados em ambientes naturais), representam propriedades regenerativas úteis à reabilitação de fadiga mental (2) e do deficit de atenção (3), podem aumentar o bem-estar mental e melhorar diversos aspectos fisiológicos, condicionantes da saúde (4, 5, 6, 7), também aumentam a autoestima, melhoram o humor (8), aliviando a tensão (nervosismo) e a depressão (9, 10), ao mesmo tempo que a percepção de esforço físico é reduzida (8).
Exercícios outdoor atuam como fator redutor de estresses (5, 11), gerando melhorias hormonais, de pressão sanguínea e de batimento cardíaco.
Em comparação com atividades indoor, exercício outdoor causam maior sentimento de revitalização, maior engajamento (9), mais interação social (12), aumento de componentes cognitivos e de humor (13, 14, 15, 16, 17).
O exercício é percebido de forma mais fácil de praticar, quando ocorre em ambiente natural. Praticantes tendem a se esforçar mais em ambientes naturais, embora manifestem menor percepção de esforço, do que quando indoor (18, 19).
Atividades físicas em espaços verdes têm se mostrado importantes para a saúde mental e têm sido associadas a longevidade e ao decréscimo de doenças mentais no Japão (20), Escandinávia (21) e Holanda (22).
Um estudo europeu reporta que, indivíduos vivendo em ambientes mais verdes tendem a ser três vezes mais ativos fisicamente, com 40% menos chances de terem sobrepeso ou serem obesos (23).
A natureza cura (vis medicatrix naturae). Exercícios em espaços verdes e áreas silvestres podem ser vistos como medicina natural, proporcionando melhorias de saúde e engajamento mais efetivo de pessoas sedentárias, condicionando mudanças de comportamento, devido ao aumento das taxas de aderência a práticas físicas (24).
Exercícios verdes aumentam a motivação por atividades físicas, porque proporcionam prazer e fuga do cotidiano, incluem aspectos de interação sociais e entretenimentos (25).
Para sumarizar, ambientes naturais podem fornecer alguns dos melhores benefícios de saúde pelo aumento dos níveis de atividade física, com menores níveis de esforço percebido, alterando o funcionamento fisiológico, reduzindo o estres, restaurando da fadiga mental, melhorando o humor, a motivação e a autopercepção de saúde (19).
Apesar das evidências que, os ambientes naturais facilitam atividades físicas e proporcionam benefícios à saúde (14), o relacionamento ou conexão à natureza está declinando em diversas partes do mundo, especialmente em crianças e adolescentes. Isto é primariamente devido a escassez de contado com a natureza (26, 27).
A população mundial apresenta 31,1% de adultos fisicamente inativos (28). Parte deste declínio é atribuído aos avanços tecnológicos advindos das revoluções agrícola e industrial e mais recentemente, da revolução digital.
O declínio da atividade física tem resultado em enorme aumento de inaptidão física e doenças (29), bem como no aumento de casos de doenças mentais (30).
Adolescentes vivendo em áreas urbanas em geral percebem áreas silvestres fora das cidades, como intimidadoras e são relutantes a visitá-las, se não têm experiências com elas enquanto foram crianças (31, 32, 33).
Neste sentido, os costumes dos pais ao praticarem atividades físicas, influenciam padrões de atividade física das crianças, suas atitudes e a escolha pelo tipo ambiente (indoor ou outdoor). Assim, se as crianças são pouco engajadas à natureza, quando se tornam pais, seus filhos tendem a procurar menos a natureza.
Somente 10% da geração atual de jovens têm acesso regular à natureza, comparados aos 40% de adultos que tiveram acesso quando eram jovens (34).
Um ciclo de estranhamento e desconexão tende a ser passado de geração à geração. O custo humano desta separação inclui dificuldades de atenção, problemas de comportamento, maiores taxas de doenças físicas e emocionais, além de diminuição do uso de sentidos (35, 36).
É desejado que mais indivíduos tomem parte em exercícios verdes e gozem das áreas silvestres, assim, desenvolvendo e retendo suas conexões evolutivas com a natureza, podem ter mais motivação para agir a favor de mais proteção à natureza (19).
As práticas ao ar livre, como trilhar e acampar, aliviam as tensões do dia a dia urbano, proporcionam experiências em áreas silvestres, que desenvolvam a sensibilidade e a conexão com a natureza. A vivência e o aporte de conhecimento, oferecidos nos cursos e oficinas do Projeto Zona de Inclusão Permanente na Floresta (ZIP Flôr), são subsídios e estímulos para aumentar a aderência de pessoas a atividades em meio natural.
(*) – Texto adaptado de Gladwell et al. 2013 (The great outdoors: How a green exercise environment can benefit all. Extrem. Physiol. Med. 2013, 2, 1–7), por Alexandre de Almeida.
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