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Conferência do Meio Ambiente de Guapimirim define prioridades

    A 3ª Conferência Municipal do Meio Ambiente de Guapimirim, com ênfase nas emergências climáticas, definiu propostas que serão apresentadas na Conferência Estadual. Mas, os debates visam também traçar política para o próprio município, definido as prioridades para a nossa transformação ecológica. O evento aconteceu no dia 29 de novembro na Coopcorreios.

    Na parte da manhã tivemos apresentações de experiências que abrangem alguns dos principais desafios ambientais e que fazem parte dos eixos definidos a nível nacional. No eixo da mitigação, Luan Campos, diretor executivo (CEO) da Polimex Bioplásticos apresentou os produtos desenvolvidos pela empresa. Luan chamou a atenção que 7,36 bilhões de toneladas de plásticos estão acumulados na natureza, o Brasil é o 4° maior produtor de plástico do mundo e apenas 1,28% é reciclado. O objetivo da Polimex é produzir um plástico biodegradável que substitui o polietileno.

    “O plástico natural torna-se adubo em 154 dias, enquanto que o plástico petroquímico leva 400 anos, poluindo o ambiente”, disse Luan.

     Em seguida o coordenador da Defesa Civil de Guapimirim, Matheus Nascimento, apresentou o plano de redução de riscos. Ele falou também dos planos de contingência e apontou algumas prioridades importantes como o conhecimento de território, o planejamento, o desenvolvimento de instrumentos e a comunicação eficiente. Mathias defendeu a promoção de medidas de resiliência e a formação de núcleos comunitários de defesa civil.

    A coordenadora do Sinal do Vale, Thais Coral, destacou a bioeconômia regenerativa que tem como objetivo principal promover a saúde das pessoas e do planeta. O Sinal do Vale é um biohub localizado na Serra da Estrela em Duque de Caxias. Thais é co-presidente do Conselho da Década da Restauração de Ecossistemas da Organização das Nações Unidas (ONU) e administra um projeto de regeneração florestal da Mata Atlântica em nossa região.

    O papel de um biohub é fomentar a bioeconômia regenerativa e realizar articulações políticas e interinstitucionais. “O dinheiro tem sido o centro da economia e isso tem que mudar”, enfatizou Thais.

    Finalmente, ela ressaltou a relação da regeneração ecológica com a segurança alimentar e o desenvolvimento do ecoturismo que traz benefícios para a natureza e renda para a população. Falou dos usos diversos da jaca e do “Caminhos do Recôncavo da Guanabara” como relevante polo para o desenvolvimento do turismo em nossa região – ligando os biohubs: Sinal do Vale, El Nagual e REGUA, atravessando trechos de Duque de Caxias, Santo Aleixo em Magé, Guapimirim e Cachoeiras de Macacu.

    O representante da Associação dos Produtores Rurais do Sucavão, Wendel Medeiros, destacou a necessidade de uma parceria entre governo e sociedade para o enfrentamento das emergências climáticas. Apontou que as atividades agrícolas convencionais com adubação química e pecuária intensiva são responsáveis por grande parte da degradação do solo e dos processos erosivos. Ele descreveu as vantagens das práticas agroecológicas e dos Sistemas Agroflorestais (SAF).

    “Ao contrário da agricultura convencional que degrada, a agrofloresta faz com que o solo fique melhor a cada ano”, defendeu Wendel. Ele argumentou que Guapimirim deve tornar-se referência em agroecologia.

    Dayana Aquino, do Instituto Tecnoarte e coordenadora do “Observatório Socioclimático do Recôncavo da Guanabara”, em desenvolvimento, falou da Governança Climática e do papel da Educação Ambiental. Ela chamou a atenção que já estamos muito atrasados com a agenda da mitigação e que temos que nos concentrar agora na adaptação climática. Temos como principias desafios o enfrentamento do calor extremo, do aumento do nível do mar e das chuvas intensas e temos que acabar com a degradação dos ecossistemas, argumentou Dayana. Ela ainda destacou que as mulheres são as mais vulneráveis aos impactos negativos das mudanças climáticas e que precisamos dar especial atenção à questão do gênero. Dayana chamou a atenção para o fato que já nos distanciamos da meta dos 1,5°C de aquecimento, definidos no Acordo de Paris. Ela falou da importância de inserirmos as questões climáticas e a adaptação nas instituições e como prioridade na Educação Ambiental.

    Finalmente, demonstrou o novo uso do termo “choque”, antes referente à economia e que agora se tornou comum na discussão climática.

    A jornalista ambiental, Fabrícia Sterci, da Visão Coop, instituição criada em Queimados, mas que agora realiza trabalho a nível nacional, falou da formação do grupo. Tudo iniciou quando seu bairro foi atingido por uma forte enchente em 2013 e observou a falta de eficiência do poder público para o enfrentamento das emergências climáticas. Decidiu partir para a organização social e para a criação de um mapeamento com dados, formando-se um mapa de vulnerabilidades. Fabrícia destacou a relevância da “geração cidadã de dados em conjunto com o uso das tecnologias digitais, como a inteligência artificial”.

     Finalmente apontou as vantagens das Soluções baseadas na Natureza (SbN)  e da transformação urbana, através da formação das chamadas “cidades esponja”.

    Na parte da tarde, uma roda de debates foi constituída, para a definição das propostas, tanto para as políticas ambientais de Guapimirim, quanto para serem apresentadas na Conferência Estadual. Algumas das prioridades apontadas foram: a transformação da agroecologia como referência e a implantação das políticas de transição; uma política eficiente para a problemática dos resíduos sólidos, com destaque para o plástico; um controle eficiente da emissão de gases e poluentes com implantação de ciclovias e a modernização do sistema ferroviário; a expansão e a manutenção das árvores urbanas com sistemas de poda eficientes; o destaque para as questões raciais e de gênero e uma atenção especial à questão da justiça ambiental em todas as políticas e discussões referentes à emergência climática e a implantação de leis mais rígidas quanto ao racismo; a garantia da segurança alimentar com a implantação e o incentivo às hortas urbanas e às feiras com relação direta entre produtores e consumidores; o reconhecimento do montanhismo como estratégia para o desenvolvimento do turismo em Guapimirim com a popularização do esporte e destaque para o seu potencial para a saúde e a educação ambiental e a implantação da Educação Ambiental como disciplina obrigatória nas instituições de ensino, com a utilização das técnicas de cartografia social e educomunicação. Através da prática da democracia participativa, garantida em nossa Constituição, podemos construir uma sociedade mais justa e sustentável. Indispensável para o enfrentamento das emergências climáticas. Cabe agora o reconhecimento por parte do poder público para que as propostas se tornem políticas prioritárias.

    Reportagem: Francisco Pontes de Miranda Ferreira

    Imagens: cedidas pela organização da conferência.