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Encontro discute plano para Adaptação às Mudanças Climáticas na Bio-região de Cachoeiras de Macacu e Guapimirim

    Segurança hídrica foi um dos principais temas: a região é essencial para o abastecimento de água para mais de 2 milhões de pessoas

    Os municípios de Cachoeiras de Macacu e Guapimirim possuem características muito próprias, em comparação aos outros municípios da bacia da baía de Guanabara. Destacam-se pela presença de áreas protegidas, com Mata Atlântica bem preservada em grande parte de seus territórios. Cachoeiras de Macacu ainda é um município com predominância das atividades rurais e Guapimirim, só recentemente, as atividades urbanas ultrapassaram as rurais, mas continua com forte produção agrícola. São os municípios que produzem água em quantidade e qualidade além de contribuírem para a diminuição dos processos erosivos.  A região produz água que é fornecida para mais de 2 milhões de pessoas.

    A capacidade adaptativa relacionada com a questão climática inclui o abastecimento de água e a segurança alimentar, setores em que os dois municípios se tornam também essenciais para a bacia hidrográfica da baia da Guanabara.

    Para discutir estes assuntos e formar um grupo de trabalho, para elaborar um plano de adaptação climática para Cachoeiras de Macacu e Guapimirim, aconteceu uma primeira reunião de capacitação na Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA) em Cachoeiras de Macacu, no dia 15 de agosto de 2024, com a presença de representantes da sociedade civil, do poder público, das comunidades e do setor empresarial.

    A coordenação e a organização do evento contaram com uma equipe formada por colaboradores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) – Empresas pelo Clima (EPC) Eixo de Adaptação, Projeto Biodiversidade e Mudanças Climáticas na Mata Atlântica – Deutsche Gesellshaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) Cooperação Brasil – Alemanha (GIZ) e Ministério do Meio Ambiente (MMA), Fundação Grupo Boticário – Movimento Viva Água Guanabara e Zebu Mídias.

     As mudanças climáticas referem-se às alterações significativas e duradouras nos padrões climáticos globais, principalmente devido às atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento. Elas resultam em fenômenos extremos, como ondas de calor, secas, enchentes e elevação do nível do mar, ameaçando ecossistemas e comunidades humanas. A urgência em combatê-las é crucial para evitar impactos irreversíveis no meio ambiente e na qualidade de vida das futuras gerações.

    O primeiro encontro teve como objetivo principal introduzir a metodologia proposta para a construção de estratégias de adaptação territorial para a região. O grupo deve, até o final do ano, elaborar um plano de trabalho com a definição de ações prioritárias. A urgência surge diante das ameaças reais que já estão acontecendo, como a maior frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos como chuvas torrenciais e períodos prolongados de estiagem e eventos contínuos e silenciosos como o gradual aumento do nível do mar e das temperaturas. Fatos que afetam diretamente a produção de alimentos, o fornecimento de água e a saúde.

    Mariana Nicolletti, da FGV, destacou que mais do que 90% das cidades brasileiras sofreram algum tipo de evento climático extremo nos últimos 30 anos. Alertou que a maioria possui baixíssimo sistema de adaptação e capacidade de enfrentamento. “É mais barato prevenir do que responder”, afirmou. Mariana apontou as diferenças entre mitigação e adaptação.

    A mitigação envolve a diminuição da produção de gases poluentes de efeito estufa e a adaptação é uma agenda para o presente, que visa ajustar ambientes naturais e humanos para o enfrentamento da crise real que já está acontecendo. Para isso, temos que garantir a permanência e o aumento de solos permeáveis nos dois municípios e implantar o máximo de empreendimentos com Soluções baseadas na Natureza (SbN) e dentro dos princípios das Adaptações de base Ecossistêmica (AbE).

    As SbN são abordagens que utilizam processos naturais e ecossistemas para enfrentar desafios ambientais, sociais e econômicos, promovendo a sustentabilidade e a resiliência. Já as AbE são estratégias que se valem da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos para ajudar as comunidades a se adaptarem às mudanças climáticas, integrando conservação ambiental e desenvolvimento sustentável. Ambos os conceitos enfatizam a importância de trabalhar com a natureza para criar soluções duradouras e benéficas para o meio ambiente e a sociedade.

    A capacitação contou com a divisão dos participantes em grupos para que os representantes das instituições presentes pudessem definir suas motivações e possíveis formas de colaboração para a elaboração de uma estratégia conjunta de adaptação climática da região para Cachoeiras de Macacu e Guapimirim.

    Algumas das principais propostas foram a necessidade de diagnósticos precisos e um conhecimento detalhado, por parte dos envolvidos, dos documentos já existentes, como os Planos da Mata Atlântica dos dois municípios, a implantação de SbN, a comunicação e a educação ambiental. Foi apontado também a necessidade de sensibilizar os políticos do executivo e do legislativo e, assim, impactar positivamente o território com políticas públicas eficientes, voltadas para o enfrentamento das mudanças climáticas. As ações prioritárias precisam ser viabilizadas através de um planejamento e um monitoramento constante.

    No dia 16, o grupo de trabalho participou de uma aula teórica e prática para o uso da plataforma Adapta Brasil do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI) que fornece um sistema detalhado de dados a nível nacional e municipal, com indicadores climáticos e níveis de vulnerabilidade, exposição, ameaças e capacidades de respostas. Esperamos que a união de profissionais da sociedade civil, do poder público, das comunidades e do setor privado, que conhecem bem o território e que já possuem ações importantes na região, possa resultar na construção de um plano eficiente, que obtenha respeito e respaldo dos governantes de Cachoeiras de Macacu e Guapimirim. Com suas vastas áreas de floresta e de produção rural, estes municípios podem se tornarem referência no desenvolvimento de projetos de adaptação às emergências climáticas dentro dos princípios SbN e AbE.

    Para fortalecer as estratégias do território, o Instituto Tecnoarte está liderando o desenvolvimento do Observatório Socioclimático do Recôncavo da Guanabara (OSRG). A iniciativa irá contribuir com a geração de conhecimento sobre os efeitos climáticos e a adaptação no território, além de monitorar políticas e programas públicos. Será um espaço para disseminação de informações, conscientização, engajamento e discussão para os diversos atores sociais da região.

    Texto: Francisco Pontes de Miranda Ferreira e Dayana Aquino

    Imagens: REGUA e equipe Tecnoarte.