Por: Francisco Pontes de Miranda Ferreira¹
A história das civilizações revela um ciclo constante: surgimento, apogeu e declínio. Os anglo-saxões, por exemplo, não foram apenas invasores da Britânia pós-romana, mas um povo em movimento que lançou as bases da Inglaterra. De uma sociedade pagã e guerreira, transformaram-se com o cristianismo, gerando uma rica cultura material e literária, como o épico Beowulf. Seu domínio, porém, terminou com a Conquista Normanda de 1066, que remodelou profundamente a estrutura de poder, língua e sociedade. Os teutônicos, outro povo germânico, desafiaram Roma, foram assimilados e, séculos depois, ressurgiram como a Ordem Teutônica — que também ascendeu, conquistou e declinou.
Esses ciclos históricos são alertas sobre a instabilidade de sistemas baseados em extração, expansão militar e controle. O Império Romano é o arquétipo do colapso por pressões internas e externas. A lição é clara: sistemas injustos e insustentáveis carregam em si as sementes da própria destruição. Hoje, enfrentamos crises globais que ecoam essas dinâmicas: crise climática, injustiça social e ameaças de conflitos armados.
O Custo da Guerra: Ética, Economia e Meio Ambiente
A guerra é a antítese da construção civilizatória. Ela consome o capital humano — o mais precioso de todos. Cada vida perdida representa décadas de potencial econômico, criatividade e consumo. Um míssil Tomahawk, por exemplo, custa 1,5 milhão de dólares e pode exterminar vidas que, juntas, representariam milhões em contribuição econômica. Um caça F-35 equivale a dezenas de hospitais ou centenas de salas de aula que jamais serão construídas.
Além disso, as atividades militares são grandes emissoras de CO₂ e causam contaminação duradoura de solos e florestas. Para cada dólar gasto em destruição, os custos de reconstrução e perdas humanas multiplicam-se por dez ou vinte. É um modelo irracional, incompatível com mercados estáveis, pessoas saudáveis e infraestrutura funcional.
O Papel Ético da Ciência
Diante disso, o dever ético dos profissionais da ciência torna-se imperativo. Grandes potências, focadas em controle e crescimento econômico de curto prazo, não resistem à mudança sistêmica. Cientistas e engenheiros, como guardiões do conhecimento, devem ser agentes da justiça social e da sustentabilidade ambiental — não por ideologia, mas por lógica e necessidade.
Exemplos como Cuba na agroecologia, os países nórdicos nas transições verdes e a Costa Rica na conservação mostram que mudanças radicais são viáveis em contextos com movimentos de base fortes, autonomia política e vulnerabilidade às crises. Cabe à comunidade científica apoiar essas transformações, desenvolvendo tecnologias acessíveis e desafiando os interesses da indústria bélica e do agronegócio extrativo.
Feng Shui: Sabedoria Ancestral para o Equilíbrio Global
Filosofias ancestrais como o Feng Shui compreendem a interconexão entre o ser humano e o ambiente. Mais do que estética, é uma prática que busca o equilíbrio energético (Qi) por meio do arranjo consciente do espaço. Seus princípios — Yin e Yang e os Cinco Elementos (Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água) — oferecem metáforas poderosas.
Ambientes dominados por cores escuras e pesadas, como o cinza-escuro (Metal em excesso), estagnam o Qi, gerando isolamento e rigidez. Analogamente, um sistema global dominado pela guerra e extração desenfreada estagna a vitalidade (Madeira) e a estabilidade (Terra) necessárias à prosperidade humana.

As cores e elementos positivos do Feng Shui apontam caminhos alternativos:
Verde (Madeira): crescimento e cura
Vermelho (Fogo): paixão e energia transformadora
Amarelo (Terra): nutrição e estabilidade
Branco (Metal): clareza e foco
Azul (Água): calma e fluxo de abundância
Aplicar essa lógica ao espaço global significa cultivar equilíbrio entre atividade (Yang) e reflexão (Yin), entre inovação e tradição, entre exploração e conservação. Significa investir na energia da educação e da saúde, que nutrem o elemento Terra da sociedade, em vez de drená-lo com os custos da guerra.
Conclusão: Uma Estrada Digna
A trajetória dos anglo-saxões e teutônicos, os custos da guerra e a urgência da ação científica ética são capítulos de uma mesma narrativa humana. O colapso de impérios antigos ecoa o risco de colapso do nosso modelo atual. A sabedoria do Feng Shui lembra que a harmonia — seja numa sala, numa sociedade ou num planeta — é uma necessidade fundamental.
Cabe a nós, especialmente àqueles com conhecimento e capacidade de influenciar o futuro, orquestrar uma transformação profunda. É uma estrada difícil, que exige enfrentar interesses poderosos, mas é a única estrada digna rumo a um futuro onde a energia seja canalizada para criar um mundo onde a vida possa florescer em toda sua diversidade e potencial.
1.Doutor em Ciências do Meio Ambiente e diretor Interinstitucional do Instituto Tecnoarte