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O Brasil em uma Encruzilhada: 5 Reflexões que Definirão Nosso Futuro

    Por Francisco Pontes de Miranda Ferreira¹

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    Existe uma sensação comum de que o Brasil está permanentemente em uma encruzilhada, dividido entre futuros possíveis que nunca se concretizam. Frequentemente, recorremos a narrativas familiares, como a do “celeiro do mundo” ou da “potência mineral”, para tentar definir nosso caminho. No entanto, por trás desses clichês, existe uma escolha mais profunda e fundamental a ser feita. Este artigo explora cinco das reflexões mais impactantes e surpreendentes sobre esse dilema, baseadas na crônica “De Ailton Krenak para Quem quer Cantar e Dançar para o Céu”, que nos convida a repensar qual nação queremos ser.

    1. A Grande Contradição: Palco do Clima, Bastidor do Petróleo

    A mais gritante contradição do nosso tempo se materializa de forma clara: enquanto Belém, no coração da Amazônia, se prepara para sediar a COP 30 e receber o mundo para discutir o futuro do planeta, o Brasil planeja a exploração de petróleo na faixa equatorial, no litoral da mesma Amazônia. Este fato concreto ilustra perfeitamente a encruzilhada do país, dividido entre a narrativa de potência verde e a reiteração compulsória de um modelo em falência. O palco está armado para que o país decida se será o vírus que consome o planeta ou o filho que canta para curá-lo.

    2. A Mentalidade Colonial: O “Vírus” que Insiste em nos Consumir

    Essa contradição não é um acaso; é o sintoma mais visível do que o texto define como o “Brasil da commodity”, um modelo que espelha, sem pudor, a lógica do antigo pacto colonial. Ele se baseia em exportar matérias-primas sem valor agregado, deixando para trás os passivos ambientais e sociais: a paisagem arrasada, os rios intoxicados e o pó que cobre o futuro. Essa lógica extrativista, que concentra riqueza e espalha devastação, é descrita com uma metáfora poderosa do pensador Ailton Krenak:

    “vírus gigante homo sapiens, essa bactéria que come o planeta”.

    3. O Verdadeiro Ouro: Nossa Riqueza Não Está Sob a Terra

    Mas há outro Brasil, real e pulsante, que teima em florescer à sombra desse projeto. Sua riqueza não está no subsolo, mas em seus ativos mais inestimáveis: as florestas, os mais de 11% de toda a água doce do planeta e, principalmente, a imensa criatividade de seu povo, descrito como “uma usina de criatividade”. O verdadeiro ouro do país não é o mineral, mas as manifestações culturais que daqui floresceram para o mundo: o candomblé, o samba, a bossa nova, o funk e o futebol. Essa capacidade de criar, segundo a crônica, é uma forma ancestral de “aliviar a terra do excesso de pressão que oprime os humanos”.

    4. A Revolução Silenciosa: Uma Economia Baseada na Cultura e na Natureza

    A partir dessa riqueza genuína, o texto propõe a visão de uma economia alternativa, que transforma nossa diversidade cultural em uma economia sólida. Essa revolução silenciosa se basearia em pilares que valorizam o que nos singulariza:

    • Um turismo sustentável, focado não em condomínios fechados, mas em aprender com comunidades ribeirinhas e celebrar festas autênticas, promovendo um “bom encontro” que reconcilia visões de mundo e deixa um rastro de preservação.
    • Uma potência gastronômica que, em vez de grãos padronizados, oferece a diversidade da agricultura familiar e agroflorestal. Seríamos os gourmands da biodiversidade, não os fornecedores anônimos de ração.
    • Uma liderança em energia limpa, capaz de enterrar a ficção do “pré-sal como salvação” para abraçar o imenso potencial do sol e dos ventos, tornando-se referência pelo que preserva, não pelo que extrai.

    A ênfase é clara: a verdadeira revolução não está nos tratores que derrubam a mata, mas “nas salas de aula e nos terreiros da cultura”.

    5. A Escolha Final: Sermos o Vírus ou a Canção?

    No fim, a reflexão nos leva à escolha final e existencial do Brasil. A encruzilhada se revela em dois caminhos claros: de um lado, a rota conhecida da commodity, da extração e do conflito; do outro, o caminho da criatividade, da cultura e do Bem Viver, um princípio que nos convida a cultivar o que nos perpetua. A decisão sobre qual futuro construir é encapsulada na frase mais poderosa do texto:

    “É a escolha entre sermos o vírus que consome o planeta ou os filhos que cantam para suspender o céu.”

    Conclusão: O Futuro em Nossas Mãos

    A decisão sobre o futuro do Brasil é muito mais do que econômica ou política; ela é existencial. As reflexões apresentadas mostram que temos os ativos, a cultura e a criatividade para construir uma nação que seja um jardim, e não uma mina a céu aberto. A pergunta que fica reverbera com o peso de nosso destino: seremos o vírus que devora ou os filhos que erguem o céu com seu canto?

    Referência

    “De Ailton Krenak para Quem quer Cantar e Dançar para o Céu” in Kariri e Costa Cartas para o Bem Viver. Salvador: Editora Boto-Cor-de-Rosa, 2020.

    ¹Francisco é Doutor em Ciências do Meio Ambiente, Diretor Interinstitucional do Instituto Tecnoarte e
    Jornalista.

    Imagens geradas por IA (Gemini e Perplexity).