Pular para o conteúdo

Papa Francisco e as Mudanças Climáticas: Os pobres são os primeiros a sofrer

    “Os Rios não bebem a sua própria água, as árvores não comem os seus próprios frutos, o Sol não brilha para si mesmo e as flores não espalham a sua fragrância para si. Viver para os outros é uma regra da natureza. A vida é boa quando estás feliz, mas é ainda melhor quando os outros estão felizes por tua causa”.

    Texto: Francisco Pontes de Miranda Ferreira, PhD em Ciências do Meio Ambiente e Jornalista

    Papa Francisco

    O Papa Francisco, primeiro pontífice latino-americano, trouxe uma perspectiva revolucionária ao Vaticano. Inspirado em São Francisco de Assis, ele adotou uma vida simples e priorizando os pobres. A visão do Papa Francisco sobre ecologia integral, presente em “Laudato Si”, dialoga diretamente com as territorialidades socioambientais que discutimos nas reportagens anteriores. Ele enfatiza que a crise ecológica é inseparável da injustiça social, refletindo a luta de comunidades tradicionais, indígenas e periféricas pela defesa de seus territórios. Sua crítica ao modelo de desenvolvimento predatório ecoa as resistências locais contra megaprojetos que deslocam populações e degradam biomas, como a Amazônia e o Cerrado. 

    Ao defender os “três Ts” (Terra, Teto e Trabalho), Francisco legitima as demandas de movimentos sociais que reivindicam acesso à terra e moradia digna – questões centrais nas territorialidades urbanas e rurais. Sua aproximação com povos originários e comunidades marginalizadas reforça a ideia de que a justiça socioambiental exige reconhecer saberes locais e modos de vida sustentáveis, em contraposição à lógica colonial de exploração. O Papa também denuncia a “globalização da indiferença”, que invisibiliza conflitos territoriais, como grilagens, violência no campo e racismo ambiental. Sua teologia da libertação aplicada à ecologia ressoa com as lutas por autonomia e autodeterminação dos territórios, mostrando que a fé pode ser uma ferramenta de mobilização política. Assim, seu pensamento não só ilumina, mas fortalece as resistências que estudamos, propondo uma ética do cuidado como fundamento para a transformação socioambiental.

    A crise climática não atinge a todos igualmente e o Papa Francisco é um dos líderes globais que mais denuncia essa desigualdade. Em Laudato Si’, ele alerta que os mais vulneráveis: pobres, povos tradicionais e periferias urbanas são os primeiros a sofrer com eventos extremos, mesmo sendo os que menos contribuíram para o problema. Esse é o cerne da justiça ambiental: enquanto nações ricas e corporações lucram com o modelo extrativista, comunidades marginalizadas pagam o preço com inundações, secas, fome e deslocamentos forçados. O pontífice também expõe o racismo ambiental ao destacar que populações negras, indígenas e camponesas são as mais impactadas pela degradação. Ele cita, por exemplo, alguns megaprojetos como a mineração e o agronegócio que invadem territórios tradicionais, destruindo modos de vida e agravando a crise climática. Enquanto isso, os responsáveis raramente são penalizados, evidenciando uma estrutura de poder que privilegia o capital em detrimento da vida. 

    Francisco vai além e liga a emergência climática à ética do cuidado, propondo que a solução exija mudanças sistêmicas, não apenas individuais. Ele defende que a luta ambiental deve vir acompanhada de redistribuição de riqueza, direitos territoriais e participação popular, pois não há ecologia sem justiça social. Seu apelo ecoa as vozes de movimentos sociais que pressionam por políticas globais que responsabilizem os maiores poluidores e garantam reparação aos mais afetados. Neste momento crítico, a mensagem do Papa é clara: enfrentar as mudanças climáticas significa combater a desigualdade. Se nada for feito, a crise não só devastará o planeta, mas aprofundará ainda mais o abismo entre privilegiados e sacrificados. Sua visão reforça que a verdadeira sustentabilidade só será alcançada quando a justiça ambiental for uma realidade para todos.

    Reconhecido como líder espiritual e político, o Papa ficará na história como um profeta moderno. Francisco prova que santidade está na simplicidade, no cuidado com os vulneráveis e na coragem de transformar. Por figuras como ele, acreditamos que um futuro melhor é possível.

    Imagens geradas por IA.