O termo “territorialidades socioambientais” surgiu como eixo integrador do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente (PPGMA) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Na tese de doutorado defendida em agosto de 2023 por Francisco Pontes de Miranda Ferreira, no PPGMA, o conceito teórico “territorialidades socioambientais” foi trabalhado de forma teórica-metodológica. O conceito gerou também um grupo de pesquisa (COLAB-Territorialidades Socioambientais), registrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), formado por doutores e doutorandos e outros colaboradores. O conceito está sendo trabalhado em várias teses em desenvolvimento e com diferentes níveis de aprofundamento e tratando de diferenciados territórios. A doutoranda do PPGMA, Mônica de Souza Corrêa nos traz a pesquisa “Novas Territorialidades em Teresópolis-RJ: agroecologia e turismo rural no Distrito de Santa Rita” em que o conceito de territorialidade socioambientais é amplamente utilizado. A tese proposta aborda a construção de novas territorialidades e ruralidades socioambientais no segundo distrito do município de Teresópolis, RJ, Santa Rita, enfocando na agricultura familiar, na agroecologia e no turismo rural como elementos chave para essa transformação. No dia 15 de junho de 2024, alunos do doutorado do PPGMA e da Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial da UERJ de Teresópolis, realizaram um trabalho de campo para conhecerem de perto experiências de construções de territorialidades socioambientais na Feira Agroecológica de Teresópolis e em Santa Rita. Os alunos foram acompanhados pelos professores do PPGMA, Rafael Ângelo Fortunato e Clara Carvalho de Lemos e pelo Pós-Doutorando, Francisco Pontes de Miranda Ferreira.
A visita começou na Feira Agroecológica de Teresópolis em local administrado pela Associação Agroecológica de Teresópolis. Os feirantes, produtores familiares agroecológicos, estão sendo despejados do local onde acontece a feira há mais de 15 anos. O motivo é a construção de um novo bairro comercial e residencial no local. O produtor rural, um dos fundadores da feira e líder do movimento agroecológico, Roberto Selig, explicou que foram derrotados pelos interesses da especulação imobiliária e dos projetos de modernização impostos pelo poder público local, mas que, ao mesmo tempo são uma instituição que conquistou certo reconhecimento. Formam um coletivo de produtores familiares e de consumidores que procuram se fortalecerem. Os feirantes vão ganhar um novo local, com maior estrutura para o funcionamento da atividade. A Associação Agroecológica de Teresópolis oferece muitos elementos para a compreensão das territorialidades socioambientais.
Em seguida o grupo foi para Santa Rita para vivenciar a realidade dos produtores rurais e a sua inserção no turismo solidário. A primeira recepção foi no Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis, a maior unidade de proteção integral municipal do Estado do Rio de Janeiro. A equipe do parque explicou a composição da área protegida, a sua relação com a comunidade local e os seus projetos como o “Passarinhar” de observação de aves e o de preservação do aurita – espécie ameaçada da Mata Atlântica. Em seguida o professor Rafael, explicou a origem da relação entre a UERJ e o Circuito Turístico de Santa Rita e convidou a presidente da Rede Brasilidade Solidária (RBS), Tiemi Yoshikawa, para definir o papel da instituição, Francisco para argumentar as bases do conceito de territorialidades socioambientais, Mônica para explanar a sua tese de doutorado e a administradora da empresa de turismo, responsável pelo circuito para demonstrar seu trabalho.
“A RBS atua em parceria com a UERJ e com diversos movimento sociais, como os artesões e os produtores agroecológicos. A RBS também está dando suporte à marca territorialidades socioambientais, recém criada”, ressaltou Tiemi. “A importância das territorialidades socioambientais reside na sua capacidade de revelar como os movimentos sociais, ao adquirirem formas de capital político e reconhecimento na sociedade, podem influenciar e transformar o meio ambiente de maneira positiva”, resumiu Francisco. O Pós-Doutorando, também falou da marca territorialidades socioambientais e como acadêmicos podem dar suporte para as comunidades. Mônica, então, explanou como o conceito vem sendo aplicado em sua tese e no território de Santa Rita. “As TSA estão sendo construídas em Santa Rita através da agroecologia e do turismo solidário. Assim acontecem mutirões agroecológicos, organização de feiras, interações com o parque municipal, diversas vivências culturais e produtivas. Os proprietários das cinco unidades de produção formam um movimento social que busca formas de bom viver”, argumentou Mônica.
A Secretária de Turismo de Teresópolis, Elizabeth Mazi, agradeceu a parceria com a UERJ e elogiou os trabalhos que estão sendo realizados no Parque, como a observação de pássaros, e sua importância para o desenvolvimento turístico do município. O subsecretário de turismo, Henrique Silva, também elogiou a parceria com a universidade e a RBS e destacou a relevância do montanhismo e do turismo rural. A professora Clara ressaltou o potencial de Teresópolis para o turismo e apontou o importante papel dos pequenos agricultores de Santa Rita na promoção de atividades que transformam o território. O chefe do Parque Municipal, Victor Cunha, defendeu uma maior aproximação da área protegida com a comunidade local. Finalizando a visitação ao Parque, Claúdia Conceição, da empresa de ecoturismo e turismo rural, Rota Certa Ecoturismo defendeu a importância do circuito turístico de Santa Rita e agradeceu a parceira com a RBS e a UERJ.
O trabalho de campo teve continuidade com o almoço no Sítio Saíra Azul, onde além da degustação de produtos locais, os participantes conheceram de perto as estufas recém instaladas de morango, as hortas orgânicas, o Sistema Agroflorestal, a plantação de pitaia e parte do pomar. O sítio investe na observação de pássaros como um futuro promissor para a região, devido a enorme quantidade de aves que podem ser avistadas com proximidade. Outro investimento futuro é a fruticultura. Para terminar as atividades, os participantes visitaram o Sítio Boaventura, em que o proprietário vem também investindo nas atividades turísticas como complemento à agroecologia. O proprietário, tornou-se agroecológico, depois de uma grave contaminação por agrotóxicos. Hoje trabalha em várias feiras do Rio de Janeiro.
Rota Certa EcoTurismo: Agência de turismo ecológico – https://www.instagram.com/rotacertaecoturismo/
Texto: Francisco Pontes de Miranda Ferreira
Fotos: Manoel Borges, Rafael Fortunato e Francisco